Os estudos sobre toxicodependência ainda não são conclusivos mas, parece que quando se desfolham revistas de Walt Disney, desprende-se uma essência capaz de inebriar e viciar mais os sentidos do que se nos fechássemos num elevador com o Jorge Palma vindo do Bairro Alto.
É que só isso explica a razão, porque ainda hoje, após desfolhar uma "revista do Tio Patinhas", logo tenha que fazer um monte com 30 revistinhas do género para alimentar o vício.
Mas não pode ser um monte qualquer.
Há regras que eu, enquanto adicto esquizofrénico, obrigo-me a cumprir desde o tempo que assoava a ranhoca às mangas das camisas também elas aos quadradinhos.
Tal como uma refeição onde se guarda a sobremesa para o fim, eu empilhava as revistas de acordo com as suas potencialidades de prazer. Ou, mais prosaicamente, pelo volume de páginas com que se apresentavam, como se fossem doses de cocaína.
Doses mais leves para começar, como as revistinhas do Pato Donald ou do Zé Carioca, depois doses moderadas como as revistas do Mickey e do Tio Patinhas, dose reforçada com as Edições Extra e os Almanaques Disney, e a overdose final com os grossos volumes do Disney Especial.
Info: Walter Elias Disney nasceu em Chicago, a 05 de Dezembro de 1901 e faleceu a 15 de Dezembro de 1966 em Los Angeles. Desde 2006 que não são publicadas revistas de Walt Disney em Portugal, pelo menos tal como as conhecemos.
Tudo era empilhado de acordo com esta ordem, mas não pensem que consumia tudo isto de uma assentada, até porque a tarefa afigurava-se mais arriscada do que tomar duche e secar a cabeça num micro-ondas.Eu lia tudo bem devagar, degustando, com prazer.
Ouviam-se ao mesmo tempo acordes de cítara e gaitas de fole. Camelos e serpentes faziam amor em espirais multicolores que se erguiam torpemente...
Autênticas tardes e noites de loucura, era o que era.
Por vezes contactava dealers que cediam o seu espólio em troca do meu, só que este tráfico de droga aos quadradinhos não se limitava a seis ou sete revistas.
Não, a troca de revistas era feita à grande e à colombiana:
"Emprestas-me 50 revistas e eu empresto-te outras 50".
E assim era.
O material sempre foi de melhor qualidade quando vinha do Brasil.
O declínio do império começou quando a Editora Morumbi substituíu gradualmente a Editora Abril. E, por volta de 1996, mais coisa menos coisa, as revistas passaram a ser encadernadas de forma obtusa, grotesca até. Até pura e simplesmente desaparecerem de papelarias e quiosques.
E assim, os vapores que inebriavam e faziam camelos e serpentes fazer amor nas espirais multicolores deixaram de fazer efeito.
Restam as feiras de antiguidades que vendem, a preço de amendoim, as velhas revistas dos anos 70 e 80. E confesso que, de vez em quando ainda compro uma ou duas doses, digo, revistas.
Amanhã há nova viagem na máquina do tempo.
Venha comigo assassinar saudades.
Venha comigo assassinar saudades.
4 comentários:
Confesso que peretençao a este grupo (o dos agarrados). Ultimo recurso antes de ir para a minha primeira reunião NA: onde compras as tuas doses?
nf
PS - Os meus parabéns. Sei que fazes anos algures para estes dias...
Null Fame:
Efectivamente faço anos "algures para estes dias".
"O Regresso ao Eldorado" não vai deixar passar a data sem um belo post dedicado a tão estapafúrdia data.
Fica atento.
Um abraço.
Já fui um agarrado como vocês e foi com pena que deixei de sê-lo... ainda gosto de voltar às revistas antigas (tenho "n" Disney Especial, Hiper Disney e outros quejandos), mas as novas seduzem pouco, pelo que a dependência é agora mais nostálgica do que efectiva. Um dos maiores golpes foi quando Donald, Pateta e os outros passaram a falar português de cá em vez do do Brasil, a que estávamos tão habituados. Não me interpretem mal, que adoro o nosso português, mas a verdade é que a coisa soava pirosa. E na altura não se falava, ainda, de acordos ortográficos... abraço, JP!
Hucleberry Friend:
E é por isso mesmo que, quando compro velhas revistas Disney, procuro as edições brasileiras, de muito melhor qualidade e bem mais antigas!
Um abraço.
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