quarta-feira, 14 de maio de 2008

Momentos de Glória - Sporting Campeão, 18 Anos Depois

Regresso ao Eldorado - Edição nº 08

No dia em que o céu e a terra se tingiram de verde, só a voz da equipa desportiva da TSF dava cor aos golos que não podia, ainda, ver em directo na televisão.
Como não tinha ainda SportTv - passei a época em cafés, bares e na afamada Tasca do Chico - foi assim que vivi, em primeira instância, a exuberante tarde leonina, com a conquista do campeonato 18 anos depois do último triunfo.

Ao longo de quase duas décadas, o caminho dos adeptos sportinguistas entroncava, invariavelmente, num beco sem saída, onde um bom punhado de benfiquistas, embriagados de basófia e arrogância, gozava a bom gozar com a triste sina verde-e-branca.
Não perdiam uma hipótese de evocar o estatuto do clube "glorioso" e, como nunca gostei de gente com a soberba pendurada na ponta do nariz, mais ganas tinha de ser sportinguista.
Há uma outra palavra que resume tudo isto: masoquismo.

Mas naquele 14 de Maio do ano 2000, há exactamente oito anos, o Sporting só precisava vencer o já extinto Salgueiros, na última jornada, para se tornar campeão nacional de futebol, 18 anos depois.

Apesar das pernas tremerem que nem varas verdes, ironia cromática menosprezada pelos adeptos mais daltónicos, os nervos esbarravam na qualidade do plantel que dava garantias de champanhe, no final da contenda.

O Sporting tinha então, no plantel, um dos dos mais carismáticos guarda-redes do mundo, o gigante dinamarquês Peter Schmeichel, mas também André Cruz, Beto, Rui Jorge, César Prates, Duscher, Pedro Barbosa, de Franceschi, Mpenza, Delfim, Vidigal, Ayew, Iordanov, e o veterano Beto Acosta cuja ciática originou piadas mas que acabou como o melhor marcador da prova, com 22 golos.Da esquerda para a direita em cima: Peter Schmeichel, André Cruz, Beto, Vidigal, Pedro Barbosa (cap.) ; em baixo: De Franceschi, Mpenza, Acosta, Rui Jorge, César Prates e Delfim.

O Sporting venceu o Salgueiros por 4-0 e a nação explodiu em mil tons de verde, sendo que nunca o depreciativo termo "lagartagem" fez tanto sentido, porque eram aos milhões a sair dos buracos para festejar efusivamente o fim do longo Inverno.
O sol voltava a brilhar.

Havia que festejar mas, além da SportTv, também me faltava o carro e, pior do que isso, faltavam-me companheiros capazes de correr pelas ruas de juba ao vento e rugido solto nas gargantas arranhadas pela glória.
Parece mentira, mas a maior parte dos meus amigos de infância não grita pelo Sporting, o que demonstra que a minha selecção de afectos nunca foi feita segundo critérios clubísticos.
O que, noto agora, foi estúpido.

Ainda pensei em utilizar os transportes públicos e ir até Alvalade para me juntar a todos aqueles leões ululantes mas nunca fui rapaz para esses acessos de loucura.
Limitei-me a subir ao telhado do meu 3º andar, todo nu, com uma enorme bandeira do Sporting na mão e ainda hoje recordo o histerismo do mulherio lá embaixo e o voo rasante de dois aviões vindos da Base Aérea do Montijo que alvejavam o monstro que exibia dois enormes mastros...
E eu gritava alegremente "Mim King Kong Johnny, Allez Sporting Allez!"

Classificação final da doce época 1999/2000:
  1. Sporting - 77
  2. F.C. Porto - 73
  3. Benfica - 69
  4. Boavista - 55
  5. Gil Vicente -53
  6. Marítimo -50
Para ver, mais ou menos os golos do Salgueiros-0 Sporting - 4 clique aqui.

Amanhã há nova viagem na máquina do tempo.
Venha comigo assassinar saudades.

2 comentários:

Patrícia disse...

não tenho memórias tão vividas desse dia, mas lembro-me bem de andar na rua...

João Paulo Cardoso disse...

Patrícia:
Não conheço sportinguista que não tenha saído à rua nesse dia, mas realmente as memórias mais frescas são do campeonato conquistado dois anos depois,com Bölöni a treinar, Jardel e João Pinto, entre outros.

Obrigado por teres aparecido.
Espero ler-te por cá mais vezes.
Beijos.